sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Shrek 2 (2004)


"Era uma vez... uma história de amor entre um ogre e a sua princesa que se tornou um sucesso fenomenal nas bilheteiras de cinema.
"Shrek" encantou e não tardaram as palmas e a recepção de braços abertos à sequela do famoso boneco e dos seus companheiros. Recorde-se que "Shrek" recebeu um Óscar como Melhor Filme Animado em 2001.

Em "Shrek 2" a história, apesar de feérica, narra histórias de reis e rainhas, castelos, do príncipe que tem de beijar a princesa para obter a felicidade para sempre, etc, etc, mas o que puxa "Shrek 2" para a ribalta é, sem dúvida alguma, a receita infalível de uma crítica social animada, a partir de um reino que, apesar de se chamar "Bué Bué de Longe", mostra algumas histórias e locais que nos parecem bem próximos da realidade e mesmo fisicamente.

Que dizer da imagem do castelo altaneiro dos reis - pais da Princesa Fiona - que mostra "Far Far Away" (traduzido para o português Bué Bué de Longe) à maneira de "Holywood", no cimo de uns montes? Ou, que dizer da estrada íngreme ladeada de verdadeiras mansões da Cinderela, Branca de Neve ou de Rapunzel, e a zona comercial onde as pessoas fazem compras em lojas de renome internacional (parodiando com Versarchery ou Burger Prince), e as senhoras com vestimentas da época medieval com sacas de compras como se se passeassem num centro comercial, numa espécie - bem igualada - de Beverly Hills?

Aqui, como no primeiro "Shrek", foi feito novamente um filme que conta uma história pensada para crianças, mas que encanta os pais. Até porque algumas das piadas estão longe do entendimento dos mais pequenos. "Shrek 2" conseguiu, de facto, inovar. Com um humor soberbo, evita piadas fáceis, dá lições de vida, consegue evitar lamechices e é de facto extraordinário como logra ir buscar a personagens como Pinóquio, os Três Porquinhos, o Lobo Mau, os ratinhos cegos, ou à Bolacha - todos do primeiro filme - as partes que mais risos arrancam. Claro que tanto o Burro, como o Gato das Botas, a Fada Madrinha ou o Príncipe Encantado também o conseguem, mas sempre com alguma crítica inerente. É por isso um filme díficil de catalogar: passa por animação, aventura, familiar, comédia, fantasia...

Estão Shrek e Fiona em final de lua-de-mel quando recebem o convite dos pais da Princesa para irem até ao castelo, onde lhes é dedicado um baile. Tanto os reis - como a restante população - ficam horrorizados com a presença do ogre, julgando que a princesa já teria sido libertada do seu feitiço, tendo sido retirada da torre e beijada por um príncipe. Uma fábula onde afinal se descobrem muitas intrigas. O rei tenta fazer desaparecer Shrek, quando é chantageado pela Fada Madrinha, que quer ver o seu filho (Príncipe Encantado) casado com a princesa.

O Gato das Botas é, aqui, a personagem surpresa, que cria uma ponte entre o Bem e Mal. Enquanto que a ambiciosa Fada Madrinha é o espelho de uma sociedade voltada só para os bens materiais. No início é encantadora, com aspecto angélico. Mas, afinal, tudo o que a Fada tem para oferecer é material, engarrafando Amor na sua grandiosa fábrica, onde detém a total produção de poções em toda a terra "Far Far Away". A banda sonora é outro dos aspectos fulcrais desta fábula que contém músicas de Pete Yorn, Nick Cave, Tom Waits, ou "Changes" de David Bowie. Imperdível!"

(Escrevi a 1 de Julho de 2004 em O Comércio do Porto)

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